sábado, 22 de julho de 2017

Paranhos (Paramos) na Crónica de D. João I de Fernão Lopes

XVI - A guerra no Norte


117. DOS CAPITÃES QUE ENTRARAM COM O ARCEBISPO A CORRER EM PORTUGAL, E COMO FOI PRESO FERNANDO AFONSO DE ÇAMORA.


Ouvido tendes, já vai em dois meses, como treze galés partiram de Lisboa e se foram à cidade do Porto, para todas, juntamente com as naus e galés deste lugar, virem em seguida dar batalha à frota delRei de Castela que estivesse sobre a cidade, e para melhor vermos tudo o que se fez depois que aí chegaram leiamos primeiro os três capítulos sobre o que aconteceu antes da sua vinda.
Onde sabei que tendo elRei de Castela cercada Lisboa, como dissemos, e estando por ele em antre Doiro e Minho os lugares que já são ditos, ajuntou-se dom João Manrique, Arcebispo de Santiago, com muitas gentes de portugueses e castelhanos para correr e destruir toda aquela comarca que tivesse voz da parte do Mestre, e os capitães portugueses que com ele vinham eram estes, convém a saber: Lopo Gomes de Lira, e João Rodrigues Porto Carreiro, e Fernão Gomes da Silva, e Airas Gomes o velho, e Martim Gonçalves dAtaíde, e Vasco Gil de Fontelo e Gonçalo Peres Coelho.
E os capitães galegos eram: Fernan Perez dAndrade, e BernaldEanes de Santiago, e Garcia Rodriguez do Valcarce e Martim Sanchez da Marinha, e PedrÁlvares e Paio Sorredea, e João Rodriguez de Bema e Gonçalo Marinho e outros, e traziam até setecentas lanças e dois mil homens de pé, todos de gentes escolheitas, bem prestes para pelejar.
Andava mais naquela comarca um cavaleiro castelhano que chamavam FernandAfonso de Çamora, homem bem fidalgo, acompanhado de oitenta de cavalo que eram muito bons escudeiros, quer castelhanos quer doutra gente, mas este andava apartado dos outros e com arte por esta guisa: quando chegava aos lugares que estavam por Portugal dizia que era da tenção do Mestre, e quando chegava aos que estavam por Castela com poucas palavras lhes fazia entender que era da sua parte, e assim andava com os seus comendo e gastando da terra sem que nenhuma pessoa lho contradissesse. E com este fingimento chegou mais as suas gentes a Santo Tirso de Riba d'Ave, e lançou-se aí a folgar muito desacautelado de qualquer contrário que lhe avir pudesse, não pondo sobre si nenhuma guarda.
O Conde dom Pedro, que estava no Porto como já foi dito, tendo ouvido isto, disse aos da cidade como sabia ao certo que este FernandAfonso andava com aquela falsura. Quando eles ouviram dizer que ele usava de tal arte, roubando e gastando da terra, partiram para o apanhar uma noite e chegaram de madrugada ao local onde pernoitara com todos os seus, desprecavidamente, e acharam-nos ainda nas camas, e apesar de que ele trabalhou para se defender quanto pôde, e igualmente alguns dos seus, tal não lhes serviu de nada, tendo ao invés ali sido mortos sete dos seus e havido feridos duma parte e de outra, e outros fugiram cada um por onde melhor podia, e prenderam-no a ele e a Afonso de Valença, seu filho, e mataram um seu sobrinho, e tomaram-lhe os cavalos e as mulas e todas as outras coisas que lhe encontraram, e trouxeram tudo para a cidade, e ali esteve preso mais o filho até que a frota seguiu depois para Lisboa e a nau onde ia foi tomada pelos castelhanos, como adiante ouvireis.

118. DO CONSELHO QUE O ARCEBISPO HOUVE COM OS SEUS DE QUE FOSSEM CERCAR O PORTO.


Estando o Arcebispo em Braga com as gentes que já nomeámos, e espalhando-se estas pela terra a roubar e a fazer todo o mal que podiam, houveram conselho a respeito da maneira como fariam a guerra o mais a seu salvo que pudessem e com mais sua honra, e afirmam alguns que disseram entre si: Vamos ao Porto, que são daqui quatro léguas, e cerquemo-lo por um lado, e que o nosso arraial seja posto à porta do Olival, e em breves dias o tomaremos, porque na cidade não há ninguém capaz de pelejar connosco, nem ela há poder de se defender que muito seja.
O Arcebispo, quando isto ouviu, respondeu então e disse: Eu não sou desse conselho por duas razões, à uma por a cidade ser de muita gente que a bem poderá defender, e à outra porque é porto de mar que por muitas guisas pode haver acorro quando de tal coisa precisar, e portanto me parece que será bem não nos chegarmos muito a ela, mas andemos antes a jeitos de duas léguas ao redor, e tirar-lhe-emos os mantimentos, e pois que eles não são encavalgados não nos podem vir fazer nojo, e entretanto ir-se-ão consumindo entre si, e porventura por esse azo se tornarão para o nosso lado, sem nenhum outro dano nosso. Dado que a maior parte do reino está por Castela, o rebelar de Lisboa, deste lugar e dalguns outros que têm a voz do Mestre não pode ser coisa que muito dure; pois que eles verão que fazem vaidade em defenderem porfiosamente a sua intenção, e farão todas as coisas que elRei, nosso Senhor, e a Rainha sua mulher lhes mandarem, e digo-vos que este seria o meu conselho. Conselho no qual se outorgavam todos os galegos e castelhanos que aí eram.
Mas os portugueses desnaturados que ali estavam, especialmente Lopo Gomes de Lira mais os seus parentes e amigos, disseram ao Arcebispo: Senhor, vamos todavia adiante, e não temos por que haver receio dos que moram na cidade; gentes são de Concelho, e não há neles nenhum bom regimento. E porque os corações de muitos são desvairados, não somente por inveja mas ainda por suspeição, que é coisa que anda muito entre eles, pode ser que quando nos virem junto consigo se ponham todos sem governança, e nascerá entre eles tal desacordo que a nós será mui grande ajuda, e azo de nos vir grão proveito. E se por acaso tiverem vontade de sair a pelejar connosco, nunca pescador lançou melhor lanço do que nós nisto podemos lançar. No que porventura pode ser que tomemos a cidade, o que para nós seria mui grande honra e façanha, de forma que, duma guisa ou doutra, não podemos disto retirar senão bem, e portanto não o ponhamos mais em vagar mas cheguemo-nos lá em toda a guisa, e, que mais não seja, vamos ao menos para fazer mostrança e provar o que querem fazer.
E o conselho era muito bom se os da cidade fossem em desacordo, como eles diziam, porque aí não há morte mais cheia de peçonha nem que tanto destrua as cidades e vilas, nem que as faça mais asinha perder do que a discórdia entre os moradores delas, mas o que ali acontecia era muito ao invés, pois as gentes da cidade eram todas num acordo para saúde e defensão dela, e tinham todos um só coração e desejo como se mostrou depois ao diante.
Então o Arcebispo, sentindo-se afincado com estas e outras razões, teve de consentir, indo ao acordo do que os outros diziam, e começaram de andar o seu caminho pela estrada de Guimarães, chegando ao meio-dia cerca do Porto, e montaram o seu arraial onde chamam São Romão, que dista meia légua do lugar, e ali comeram e folgaram.

119. COMO OS DO PORTO SAÍRAM FORA DA CIDADE PARA PELEJAR COM OS GALEGOS.


Quando os da cidade souberam como os castelhanos eram naquele lugar, e a vontade com que vinham, chegaram todos a seu acordo, dizendo uns aos outros: Estas gentes que ali estão são muitas e boas, e vêm com a intenção de cercar esta cidade e de a tomar, se puderem; e nós, sendo cercados por eles, ou nos deixaremos aqui ficar encerrados, como gado no curral, e não sairemos lá fora, ou lhes poremos a praça; se não sairmos daqui, isto ser-nos-á de mui grande míngua e prasmo, porque todavia nos cumpre de sairmos, pois doutra guisa que vergonha não seria a nossa? Vermos a cidade cercada pelos nossos inimigos, que querem haver de nós honra e provar para quanto somos, e não curarmos nós disso e ficarmo-los a olhar do muro como mulheres? Não devemos pois consentir que eles levem de nós tal louvor, e que a vergonha fique connosco por os deixarmos chegar aqui à sua vontade, mas saiamos de toda a guisa a eles, e que ninguém haja receio, pois Deus será em nossa ajuda.
Havido este acordo, e terminado o conselho, trabalharam logo de armar-se todos à maior pressa que puderam, de forma que, do maior até ao mais pequeno dos que podiam tomar armas, não ficou nenhum que não se armasse para sair lá fora quando fossem prestes; o principal dos quais era o já nomeado Conde dom Pedro, com quinze escudeiros seus, bem armados, e quarenta homens de pé com eles; e Airas Gonçalves da Feira, que tinha o castelo de Gaia, com quarenta escudeiros bem corrigidos, e também um fidalgo chamado Martim Correia, e outros bom escudeiros com as suas gentes, de guisa que eram por todo, com os da cidade, até setecentos homens de armas e trezentos besteiros, e mil e quinhentos homens de pé.
Era mais nesta companha Gonçalo Peres, escrivão da chancelaria, pai que foi de Luís Gonçalves e de Pero Gonçalves que chamaram Malafaya, ao qual ainda adiante se fará menção e a quem o Mestre, antes disto, havia mandado numa barca com João Ramalho e Nicolau Domingues, homens honrados da dita cidade, para encaminhar coisas do seu serviço.
Este não parava de dizer a uns e a outros: Amigos, saiamos a eles, que não são para nada; nós somos portugueses direitos, e para defender a nossa terra e reino não devemos tomar nenhum receio, mas devemos de todavia pelejar com eles, e defendê-lo (o reino) até à morte, não os deixando subjugarem-nos contra a razão e o direito.
Estando eles todos prestes com grande esforço e vontade, saíram todos cá fora e foram-se posicionar ao chafariz de Mijavelhas, que é a pequeno espaço da cidade, pois, porque não eram encavalgados e era já sobre a tarde, não ousaram de ir mais longe, e atenderam-nos aí; e quando viram que não apareciam tornaram-se para a cidade, e não se fez mais por então.

120. COMO AS GALÉS DE LISBOA CHEGARAM AO PORTO, E SE JUNTARAM AS GENTES DELAS COM OS DA VILA PARA PELEJAREM COM OS GALEGOS.


No outro dia de madrugada armaram-se todos e saíram pela porta do Olival, porque ouviram dizer que por essa parte queriam vir aquelas gentes, e foram-nos aguardar por grande espaço longe da cidade. E estando eles ali, chegaram as galés que mais atrás dissemos que partiram de Lisboa, todas empavesadas e bem corrigidas, e dando às trombetas com grande alegria, e fazendo as suas saudações como é costume dos mareantes, pousaram diante da cidade. Os que não saíram fora e ficaram nela, quando viram as galés, foram muito ledos com elas e mandaram-no logo dizer aos outros. Também os das galés, quando chegaram e lhes disseram como os da cidade tinham saído para pelejar com aquelas gentes, sem outra tardança nem mais traspasso, puseram logo as pranchas para fora e saltaram todos em terra com a bandeira do Mestre tendida diante deles, convém a saber: Gonçalo Rodrigues de Sousa, e Rui Pereira, e Afonso Furtado, e Estêvão Vasques Filipe, e Gonçalo Vasques, filho de Vasco Martins de Melo, e seu irmão, e Antão Vasques, e Airas Vasques dAlvalade e outros fidalgos e patrões de galés, e com eles até trezentas lanças e quinhentos besteiros, e três mil e quinhentos galeotes. Assim que eram ao todo com os da cidade, que já ditos são, mil homens de armas e oitocentos besteiros, e cinco mil homens de pé, todos com grande vontade de pelejar.
Quando os galegos ouviram dizer que as galés de Portugal tinham chegado, e que as gentes delas eram juntas com as da cidade, muito lhes pesou de tais novas, de guisa que de todo perderam a esperança em que dantes estavam; no entanto, porque eram certos que os do lugar não estavam encavalgados, deixaram-se estar de assossego. Os portugueses, quando isto souberam, houveram acordo entre si, dizendo: Pois já que assim é que eles não querem vir a nós, vamos nós buscá-los ali onde estão, e que nenhum se enfade em quanto pudermos andar, porque doutra guisa fariam de nós escárnio.

Então moveram-se todos a caminho de Paramos com as suas bandeiras adiante: a primeira era a do Mestre, que todos haviam de a guardar, e a outra a dos sinais da cidade, e muitos daqueles que assim os viam ir choravam de prazer, dizendo: Senhor Deus, Rei piedoso, sê do nosso bando e ajuda-os contra os seus inimigos.
Indo eles assim regidos em batalha, com grande vontade de pelejar, vieram quatro ginetes da parte dos galegos a descobrir terra e, como os viram ir daquela guisa, deram logo a volta e foram dizer ao Arcebispo e aos outros que eles já apareciam no viso de Paramos. Então cavalgaram todos asinha e passaram águas de Leça, e puseram-se acima da ponte do rio num alto e forte lugar, de jeito que nenhum lhes podia fazer nojo nem passar por aquela ponte sem sofrer mui grande dano.
Aos portugueses, quando os viram daquela maneira, acendeu-se-lhes mais a vontade de pelejar, mas buscando lugar azado por onde passassem a seu salvo, para os fazerem descer daquele monte, nunca o puderam achar, e porque se aproximava a noite aposentaram-se nos mormoirais (monumentos fúnebres) de Leça, e dali mandaram o seu recado ao Arcebispo por um frade da Ordem de são Francisco que chamavam frei Vasco Patinho, o qual chegou até ele e disse: Senhor, aqueles capitães que ali estão com aquelas gentes vos enviam dizer e rogar que vos praza de vos arredardes daqui, de guisa que eles possam passar pela ponte desembargadamente, e que vos ponhais em lugar onde eles vos possam pôr batalha e pelejar convosco.
Amigo, disse o Arcebispo, estas gentes estão aqui juntas, como vós vedes, e se eles a nós quiserem vir, aqui nos acharão prestes para pelejar; que doutra guisa nós não nos mudaremos de como estamos, senão quando virmos que nos cumpre. E esta resposta lhes levai.
Tornou-se o Frade com este recado, depois cerrou-se a noite e puseram as suas escutas pelos caminhos para que não recebessem dano dalguma parte, e fizeram-se muitas fogueiras no arraial e os demais deles vigiaram toda a noite, pois não eram mais longe dos inimigos que um tiro de virotão; e os castelhanos não deixaram de assentar o seu arraial e de mandar as suas azémolas para Braga.

121. COMO OS PORTUGUESES ESCARAMUÇARAM COM OS GALEGOS, E SE FOI O ARCEBISPO.


Foi-se gastando a noite asinha (depressa), que era no mês de Maio, e na alva da manhã, tanto que alvoreceu, os galegos já estavam todos prestes, assim os de cavalo como os de pé, com a sua bandeira tendida dos sinais de Santiago. Os portugueses, quando isto viram, buscavam lugar por onde passassem e não o conseguiam achar, e bem mostravam por fora a grande vontade de pelejar que dentro tinham no coração.
Acabaram por se meter mais acima por uma brenha muito espessa, e acharam um porto (passagem) não bem azado para passar, mas deitaram nele muitos paus e ramos de árvores, e começaram por ali a passar como melhor puderam até trezentos entre besteiros e homens de pé, e também alguns a cavalo, e com eles ia um cidadão do Porto que os acaudelava que chamavam João Ramalho.
Os galegos, quando viram que eles passavam por lugar tão mau, maravilharam-se e disseram: Deixemo-los passar quantos puderem, e depois que forem da parte de aquém, antes que sejam acaudilhados e regidos como cumpre, daremos neles rijamente de volta e assim os desbarataremos.
Os portugueses compreenderam isto, e foram-se mais abaixo procurar outro lugar melhor por onde pudessem ir todos juntos, porém, antes que passassem, os galegos a cavalo e de pé, todos em tropel, vieram dar rijamente naqueles poucos que já eram da parte dalém. Os portugueses, apesar disso, não se arramaram (não debandaram), mantendo-se todos juntos, e começaram uns e outros de se ferir com vontade, porém os besteiros magoavam muito mal os galegos, de guisa que caíram logo mortos um de cavalo e dois de pé, e os demais afastaram-se dali para fora por força.
Falou então o Arcebispo aos seus e disse: Amigos, não reparais como estas gentes vêm a nós, assim como homens que não temem a morte? Certamente grave coisa seria, e não me parece de razão, havermos de nos embrulhar com eles, pois eles trazem muitos besteiros, pelo que hão de nós grande melhoria (vantagem), e matando-nos os cavalos poderíamos asinha ser vencidos, e por isso deixemo-los e vamo-nos a nosso salvo; porque ainda que dois reis estivessem para pelejar, e a um deles viesse gente de treze galés em ajuda, tal vinda lhe daria tanta avantagem e poria o outro em tão grande dúvida que este último bem cuidaria que tal peleja era de escusar, e mormente tal vinda o deve fazer a nós, disse ele.
Então outorgaram todos nisto que o Arcebispo dizia e moveram-se dali e foram-se logo, e em indo alguns portugueses a jeito deles, ladrando-os, deram parte dos galegos volta e foi morto um português. Então deixaram de os seguir e aguardaram aquele dia e a noite seguinte, pensando que os seus inimigos faziam aquilo por arte e porventura ainda tornariam a eles. E depois que souberam que eram já muito alongados, tornaram-se para a cidade com grande prazer.
http://www.azpmedia.com/espacohistoria/index.php/cronica-de-d-joao-i/capitulo-xiv

sábado, 27 de maio de 2017

CONDE DE FERREIRA (1782-1866) De esclavagista a filantropo



Foi único Barão, Visconde e Conde de Ferreira Joaquim Ferreira dos Santos, que nasceu em Vila Meã (Douro) a 4 de Outubro de 1782 e morreu no Porto a 24 de Março de 1866. Nasce Português, vive londos anos como Brasileiro e morre como Português.

De origem modesta, filho de lavradores pouco abastados, foi destinado à vida eclesiástica, para o que estudou humanidades. Reconhecendo a sua pouca vocação para o estado clerical, dedicou-se à vida comercial, no Brasil e em África, com assinalado êxito, alcançando grande fortuna ao "comercializar" cerca de 10.000 escravos angolanos. Depois de ter sido decretada a abolição da escravatura no Brasil (1830), foi acusado de a perpetuar. "Indignado" com tal acusação decide fazer uma viagem pela Europa. Chega a Portugal em 1832, desembarcando em Lisboa. No final do Cerco do Porto fixa residência na cidade Invicta retomando a sua actividade comercial. Compra acções da Companhia das Lezírias e é um dos fundadores do Banco Comercial do Porto. 

Após algumas atribulações com os seus negócios e a vontade de voltar a obter a sua nacionalidade, no país do Cabralismo, vem a falecer com 84 anos deixando um testamento que o elevou à condição de benemérito.

Num país sem parque escolar polvilhou-o de escolas - 120 - em terras cabeças de concelho, criando um estilo arquitectónico próprio, no qual a casa do professor estava anexa a cada escola. Mandou construir e dotar o Hospital dos Alienados, que mais tarde adoptou o seu nome, equipamento que foi, sem dúvida, uma verdadeira escola de psiquiatria.
Soares dos Reis esculpiu a sua estátua, como agradecimento ao filantropo, e esta encontra-se no seu túmulo no cemitério de Agramonte.

1868
Início da construção do Hospital de Alienados do Conde de Ferreira, na Quinta da Cruz das Regateiras, situada na antiga estrada para Guimarães. A extensa propriedade, com 120.000 m2, com água em abundância e boa exposição higiénica, possibilitava a existência de jardins, prados e terrenos cultiváveis, considerados factores indispensáveis na terapêutica psiquiátrica.
O projecto, cuja arquitectura foi inspirada no Hospício Pedro II, inaugurado a 05 de Dezembro de 1852 no Rio de Janeiro (Brasil), é da autoria de Manuel d'Almeida Ribeiro, arquitecto e professor na Academia Portuguesa de Belas Artes.
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1883
Inauguração do Hospital de Alienados do Conde de Ferreira (24 de Março). 
António Maria de Sena foi convidado pela Misericórdia do Porto para o cargo de Director Clínico, oriundo da Faculdade de Medicina de Coimbra, onde se doutorou com a tese "Análise Espectral do Sangue" e com o trabalho intitulado "Delírio nas Moléstias Agudas", no concurso para professor daquela faculdade.
O Hospital é constituído por um vasto edifício que se desenvolve por quatro grandes alas e dois pavilhões envolvidos por jardins. Em anexo foi construído um pavilhão para observação médico-legal dos criminosos de ambos os sexos, assim como o laboratório. Como complemento existiam estruturas de apoio: oficinas, tipografia, lavandaria, rouparia, cozinha, entre outras. O Hospital era composto por 14 enfermarias, variáveis de acordo com a categoria social, o tipo e a fase da enfermidade dos doentes.

domingo, 30 de abril de 2017

A QUINTA DE LAMAS

Solar/Quinta está classificada como arquitectura civil, e situa-se no Lugar das Lamas, em Paranhos, O primeiro proprietário do solar, de que há registo, teria sido o visconde de Roriz que morreu em 1858 e, o último, a família Canavarro.





















Para uma informação mais precisa consulte os links abaixo ( uma pequena, mas importante contribuição de Aníbal Styliano Costa e Manuela Brás Costa, Separata do Boletim Cultural da Câmara Municipal do Porto - 1987/88)


http://arquivodigital.cm-porto.pt/ArquivoDigital/winlibimg.aspx?skey=&doc=494248&img=6810

http://arquivodigital.cm-porto.pt/flexpaper/flexpaper.aspx?skey=&doc=494248&img=6810

Nos dias de hoje, a Quinta de Lamas é ocupada por Parque inaugurado em 2015, da responsabilidade da Universidade do Porto "O novo parque verde já está aberto à população, conta com três hectares, 18 mil metros quadrados de área relvada, 700 árvores e arbustos, zonas de desporto informal e percursos cicláveis. O projecto de requalificação, coordenado por Paulo Farinha Marques (arquiteto paisagista e professor da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto) destaca-se pela larga alameda arborizada que faz a ligação visual e física entre a FEUP e FEP, pela grande clareira relvada e pelo "destapamento" da Ribeira da Asprela, que ali passava entubada e agora corre a céu aberto, com leito e margens naturalizados.  A empreitada, da responsabilidade da Universidade do Porto, representou um investimento de cerca de 1,1 milhões de euros, co-financiados em 750 mil euros pelo Banco Santander Totta. Seguir-se á uma segunda fase na construção da zona verde da Asprela, cujo lançamento foi formalizado hoje com a assinatura de um protocolo de colaboração. Em parceria, a Universidade do Porto, o Instituto Politécnico do Porto, a Câmara Municipal do Porto, a Águas do Porto e a Porto Lazer vão aliar esforços no sentido de alargar a área verde do Parque da Quinta de Lamas a um terreno contíguo, entre as ruas Roberto Frias e Dr. António Bernardino de Almeida." Fonte Câmara Municipal do Porto.


Vista aérea da zona rural de Paranhos, desde a Quinta de Lamas (das Viscondessas de Roriz, Norte), na Rua Dr. Manuel Pereira da Silva, à Colónia Dr. Manuel Laranjeira (Sudoeste). Identificando-se, o Cemitério de Paranhos, o Bairro de Casas Económicas de Paranhos, na Rua Dr. Manuel Pereira da Silva; e a Quinta de Santo António, na Rua Dr. Júlio de Matos.
1939 - 1940


quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

Rua da Rainha agora de Antero de Quental



“A estrada de Braga, saindo da Porta do Olival, ia pelos Ferradores, Rua de Santo Ovídio, Campo de Santo Ovídio, ou Regeneração, e passando o monte da Lapa, atravessava o lugar que primeiro se chamou do Olho Vivo, denominação popular da capela que ainda lá existe e se chama, desde princípios deste século (XX), do Senhor do Socorro.
O chamadouro de Olho Vivo viria, dizem, de ser em tempo antigo, um ermo e costumarem os ladrões acoitar-se por detrás da ermida, para os seus assaltos. Por isso se recomendava “Olho Vivo” ao passar pelo Senhor.
rua de antero de quental
Este lugar que assim ia dar da Lapa ao Campo Lindo, chamou-se depois do Sério, não se sabe porquê, talvez alcunha de algum proprietário ou morador local. Figura o topónimo à data do cerco (1832-33), mas já então se encontra também o de Rua Nova da Rainha. Seria talvez esta a designação oficial, e aquele chamadouro popular.
Diz-nos Horácio Marçal, na sua bela monografia de Paranhos, que até 1875 “teve o antigo lugar do Sério a designação de Travessa do Campo Lindo; a seguir foi Rua da Rainha, e hoje, é Rua de Antero de Quental”. Com esse nome de Rua da Rainha a encontramos nas plantas de Mangeon e de 1902.


Supomos que a Rainha seria a Senhora D. Maria II, e portanto dataria a denominação da entrada das tropas liberais no Porto. Recebeu depois o nome de Rua de Antero de Quental. Não será necessário esclarecer os nossos leitores de quem foi Antero de Quental, o poeta máximo dos Sonetos – “Santo Antero” lhe chamavam os seus amigos e companheiros”. Cunha e Freitas em “O Primeiro de Janeiro”,  26 Maio de 1972.

Era nesta rua onde se encontrava o antigo campo de futebol da do F.C.Porto. O campo, relvado havia sido inaugurado em 6 de Dezembro de 1908 com um jogo em que o Porto venceu o Leixões por 6-3. Foi transferido em 4 de Novembro de 1912 para a Rua da Constituição onde ainda existe.




Em 1911 encontramos documentos no Arquivo Histórico de pedidos de licenciamento para construção na "Rua da Rainha".


Plano topográfico que compreende (...) todos os terrenos que medeiam entre os sítios das Águas Férreas, Carvalhido, Lugar do Regado, Estrada de Braga, Sério, Rua da Rainha e Igreja de Nossa Senhora da Lapa(...)
10 de Agosto de 1839