quinta-feira, 31 de maio de 2018

Os Franciscanos Capuchinhos no Amial

Paróquia do Amial

Os Franciscanos Capuchinhos vieram para Portugal por volta do ano 1932 e estabeleceram-se, primeiro em Serpa, depois em Beja, em Barcelos, em Ponte de Lima, e mais tarde em Fafe. Em 1939 pensaram em estabelecer-se na cidade do Porto. Compraram um terreno na Rua António Cândido, perto da igreja da Senhora da Conceição, na zona do Marquês, que se estava a construir. Mas como houve oposição do pároco, renunciaram ao local e perderam o sinal da compra que já fora pago. 
Em troca disto pediram ao ao bispo do Porto que lhes fosse concedida licença para exercerem o ministério na igreja de São José das Taipas, também chamada Capela das Almas, na Cordoaria. O Bispo acedeu a este pedido e deu-lhes de esmola um conto de réis. Foi naquela igreja que os Capuchinhos iniciaram o seu ministério sacerdotal. Os dois sacerdotes que a serviam, viviam numas divisões no rés-do-chão de uma casa situada perto da igreja.

Mais tarde adquiriram a Quinta e a Casa do Tronco, na freguesia de Paranhos, na zona do Amial, junto da Estrada da Circunvalação, que pertencia à família Pinto Leite. Foi comprada no dia 8 de Março de 1941. O preço da aquisição seriam 290 contos, pagos em prestações durante três anos.

A palavra Tronco tem origem num acontecimento antigo, pois era nesta zona que havia um tronco onde se prendiam os cavalos para serem ferrados. Eram estes cavalos que puxavam as carroças e as diligências que se dirigiam de Coimbra para Braga e de Braga para Coimbra, através das antigas estradas ou calçadas. Também se aproveitava esta paragem do Tronco para alimentar e dar de beber aos cavalos. Fazem parte desta zona a Rua do Tronco, a Rua Nova do Tronco e parte da Rua do Amial e da Circunvalação. 
A Quinta do Tronco era um solar com jardins e uma pequena capela dedicada à Imaculada Conceição, cuja imagem do século XVIII ainda se encontra na capela do convento. Nesta Quinta do Tronco, antes da chegada dos Capuchinhos, costumavam fazer retiro muitos sacerdotes da diocese do Porto, visto ser um lugar sossegado, convidativo para o recolhimento e a oração.

Com a compra desta Casa e Quinta do Tronco, os Franciscanos Capuchinhos deixaram a casa de Fafe, onde estavam os seminaristas. No dia 10 de Outubro de 1941 chegaram à casa do Tronco os 22 alunos do Seminário Capuchinho.

Viviam neste convento seis sacerdotes, todos estrangeiros, e dois Irmãos auxiliares. Os sacerdotes eram os professores daqueles seminaristas. Mais tarde vieram também alguns padres capuchinhos brasileiros e outros espanhóis. O culto era celebrado na antiga capela da casa da quinta, mais tarde construíram ao lado um salão para festas, adpatando-o, mais tarde, para capela por ser mais espaçoso que a capela primitiva. 

Em 1952 a capela era já pequena para o número de fiéis e surgiu a vontade de se construir uma Igreja.  Em Agosto de 1954 foi benzida a primeira pedra pelo bispo do Porto, D. António Ferreira Gomes, estando presentes as autoridades civis e militares. 
A 7 de Dezembro de 1958 foi solenemente benzida a nova igreja, dedicada à Imaculada Conceição. Presidiu ao acto o referido Bispo do Porto.  


Foi autor do projecto da cripta e da igreja do Amial e o seu principal animador, o senhor Engenheiro Fernando Borges de Avelar. A entrada, numa escadaria em granito, com rampa de ambos os lados coberta em calçada portuguesa, embelezam dando a graciosidade, tornando seguro o acesso das pessoas à Igreja. Com corrimão lateral, existe uma rampa de acesso a pessoas com mobilidade reduzida.

A  imagem da Imaculada Conceição, colocada num nicho por detrás do altar-mor, foi obra do famoso escultor português José Ferreira Thedim. Mede de altura dois metros e quarenta centímetros.
Foi nesta igreja que foi sagrado o primeiro bispo capuchinho português, D. Francisco da Mata Mourisca, que actualmente é bispo da Diocese de Uíje, em Angola. Em 1966 foi inaugurado o novo convento da casa do Tronco a fim de acolher os estudantes capuchinhos de Filosofia e Teologia. Desde 1974 que os Franciscanos Capuchinhos são párocos da paróquia do Amial e esta igreja é, desde 1980, a sede desta paróquia, com o título de Nossa Senhora do Amial. 



Os Franciscanos Capuchinhos do Porto têm-se dedicado à evangelização dos fiéis, à pregação das «Missões Populares», ao apostolado bíblico, ao ministério da Confissão, à catequese das crianças e dos adultos, à assistência dos doentes nos hospitais de Santa Maria e Oncologia, à ajuda das mães solteiras, à reintegração dos toxicodependentes e à assistência dos idosos, para o qual construíram um Centro Paroquial da Terceira Idade.

QUINTA E CASAIS DO TRONCO
(texto retirado,com algumas adptações, do livro de Horácio Marçal)


Planta topográfica da cidade do Porto 1892

Esta extensa propriedade rústica constituía, com esta denominação, um prazo de vidas foreiro ao Cabido da Sé (muitos foros e ou prazos eram concedidos em vida pela Casa Real Portuguesa, como recompensa de serviços à nobreza), com o foro anual de seiscentos réis em dinheiro, dois alqueires de trigo, vinte e nove de pão meada, cinco galinhas; e de lutuosa seiscentos reais em dinheiro e duas galinhas, com o laudemio (o direito ao recebimento do forode 4 para 1 que, pela faculdade que os enfiteutas (arrendatário; aquele que usufrui de um imóvel mediante pagamento de um valor, de um foro, previamente acertado com o proprietáriotinham para subemprazar, fizeram três emprazamentos de terras que ficaram fora da referida Quinta mas que a ela pertenciam,. das quais, no ano de 1777, eram possuidores João da Silva e  sua mulher, José Ferreira de Aguiar e  sua mulher, e Domingos Alves, solteiro.
Neste mesmo ano de 1777, por se acharem extintas, havia já muitos anos, as vidas do prazo por falecimento de Luís Freire de Sousa, última vida que nele foi, passou esta fertilíssima «Quinta» e. casais dela a Francisco Maria de Andrade Corvo de Camões e Neto, fidalgo da Casa Real,  e compunha-se de casas principais sobradadas e telhadas, capela, casas térreas para servidão de caseiros, estrebarias, palheiros, aidos, enxidos (quintal) , cortinha, pomar, jardim com lago, devesas, inúmeros campos, entre eles os denominados do Agueto e da Revolta, bouças, etc. .etc.   Em 1817, o possuidor desta propriedade (o primeiro dono continuava a ser o Cabido da Sé) era o Dr. Jerónimo José Soares e “sua esposa D. Maria Miquelina de São José, da cidade do Porto. Tinha sido renovado o prazo em Jerónimo de .Magalhães aos dezassete dias do mês de Julho de 1668 nas notas do tabelião Cristóvão d'Oliveira, da cidade do Porto, e que o possuía por título de arrematação em hasta pública, por execução de sentença feita a Francisco Maria de Andrade Corvo, arrematação que foi efectuada a 19-8-1800 e que do mesmo prazo pagavam anualmente ao Cabido, pelo S. Miguel, a seguinte renda: 14 alqueires e meio de centeio, 14 alqueires e meio de milhão, 2 alqueires de trigo, 5 galinhas e seiscentos réis em dinheiro e de lutuosa (direito que os donatários recebiam por morte dos seus rendeirosseiscentos réis em dinheiro e 2 galinhas e domínio das compras, vendas ou trocas de 4 para 1 , isto é, a quarta parte do preço por que se fizessem com as mais condições e obrigações constantes do prazo velho (1).

Planta topográfica da cidade do Porto 1892


Uma fracção desta ampla propriedade rural, com boas terras de semeadura e que ainda conserva a antiga designação, de «Quinta do Tronco», pertence, actualmente (1954), a Manuel da Silva Lopes Júnior. Outra fracção, importante também, foi adquirida pela Nova Empresa Industrial de Cortumes, ao Amial; outra ainda é onde está presentemente a chamada «Quinta do Dias» e as restantes foram convertidas em belos prédios de habitação, tanto na Rua do Amial como na Rua Nova do Tronco.

(1) Cartório do Cabido, maço n." 503, pág. 2l7 e segs. 




terça-feira, 29 de maio de 2018

Quem foi S. Veríssimo - Patrono de Paranhos


Santos

Veríssimo, 

Máxima e Júlia, Mártires, 03 de Outubro


Testemunho de uma cristandade, de que pouco se conhece, o culto dos mártires Veríssimo, Máxima e Júlia, surge envolto em nebulosa, que apenas permite com rigor atentar na perenidade de uma memória cultivada em Lisboa, muito embora se estenda por outras zonas, como Coimbra, Braga e Porto. Na Diocese do Porto, têm S. Veríssimo como padroeiro as paróquias de Paranhos, Valbom, Nevolgilde, Lagares (Felgueiras) e São Veríssimo, de Amarante.
Uma das referências mais antigas referentes aos mártires de Lisboa surge no Martyrologium de Usuardo que, em 858, percorre diversas cidades hispânicas em busca de relíquias. Os testemunhos litúrgicos multiplicam-se ao longo dos séculos X e XI, sendo convergentes, ao consignarem o dia 1º de Outubro para memória dos três irmãos. O Padre Miguel de Oliveira sustenta a opinião de que "os santos mártires de Lisboa já estavam inscritos nos calendários uns 200 anos depois do seu martírio". Devoção guardada no seio da comunidade moçárabe, o seu eco chega a Osberno, que, na relação da conquista de Lisboa, nos dá conta das ruínas do santuário que lhes estava devotado.
O percurso da vida destes mártires, impossível de averiguar com rigor, aparece descrito num códice quatrocentista da Biblioteca Pública de Évora, (cód. CV/1-23d). Segundo a "Legenda", os irmãos lisboneses, Veríssimo, Máxima e Júlia, durante a perseguição de Dioclesiano (imperador romano de 284 a 305 d. C.), apresentaram-se espontaneamente ao executor dos éditos imperiais, confessando a fé cristã. Tentou ele dissuadi-los, com promessas e ameaças e, como nada conseguisse, mandou-os prender. Vitoriosos da prova do cárcere, aplicou-lhes o juiz vários tormentos: açoites, ecúleo, unhas de ferro, lâminas em brasa. Como ainda resistissem, mandou arrastá-los pelas ruas da cidade e, por fim, degolar. Assim alcançaram a palma do martírio a 1º de Outubro de 303 ou 304.
Não contente com o que lhes fizera em vida, perseguiu-os o juiz depois de mortos, ordenando que os cadáveres ficassem insepultos, para servirem de pasto aos cães e às aves. Como as feras os respeitassem, mandou então que os lançassem ao mar com pesadas pedras. Ainda os barqueiros não tinham regressado à praia e já os santos despojos lá se encontravam. Recolheram-nos piedosamente os cristãos e sepultaram-nos no lugar onde depois se erigiu uma Igreja que ainda por memória se chama "dos santos".
Em 1529, a comendadeira D. Ana de Mendonça, mandou colocar as relíquias em cofre de prata, ao lado direito do altar mor, com o epitáfio seguinte: "Sepultura dos santtos martyres S. Verissimo, Santa Maxima & Iulia, filhos de hum senador de Roma, vindos a esta cidade a receber martírio, por revelação do Anjo. Iazem nesta sepultura os seos santos corpos, os quaes há 1350 annos que padecerão & forão trasladados a esta casa onde jazem".
Quanto à naturalidade, nada se costuma afirmar com certeza. Só em época muito recente os hagiólogos os fizeram filhos de um senador romano e os imaginaram em Roma, em colóquio com um anjo que os mandou a Lisboa para confessarem a fé. Esta lenda refletiu-se na iconografia: os três mártires são apresentados em traje e hábito de romeiros, com bordões compridos nas mãos, como pode ver-se num belo conjunto de três imagens, do Século XVII, expostas ao culto na Igreja do extinto Mosteiro de Santos-o-Novo, em Lisboa, que guarda as relíquias dos mártires.

Fontes:
http://www.evangelhoquotidiano.org/zoom_img.php?frame=75779&language=PT&img=&sz=full