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terça-feira, 13 de março de 2018

Figuras Públicas

EM MEMÓRIA DE QUEM NASCEU, VIVEU E/OU MORREU EM PARANHOS.
FIGURAS PÚBLICAS DE PARANHOS

Tomás Pinto Brandão - Poeta

Nasceu em 12 de Março de 1664, na Aldeia do Couto, em PARANHOS, Porto, falecendo em 1743.
Diz Camilo no Cancioneiro Alegre que «era o coronel, o pontífice dos poetas biltres do século XVIII». Acrescenta que «rivalizou com o brasileiro Gregório de Matos no calão de bordel. As suas poesias honestas são más; as fesceninas avantajam-se em graça às de Bocage. No tempo de Tomás Pinto, e do Camões do Rossio, do Lobo e de Frei Simão António de Santa Catarina, cinzelavam-se os rendilhados de uma poesia obscena com buril delicado."
Partiu para o Brasil na companhia do poeta e amigo Gregório de Matos e aí, devido à sua irreverência em matéria de religião, foi preso. Condenado ao degredo em Angola, apaixonou-se pela sobrinha de uma rainha africana. Mais tarde casou, mas foi vítima de um processo movido pela sogra, situação que utilizou de forma satírica para escrever um soneto no mais puro estilo barroco. O seu regresso a Portugal ficou marcado por uma nova condenação e prisão. Conseguiu livrar-se dessa situação graças ao apoio de alguns fidalgos que apreciavam as suas sátiras. Na sua autobiografia burlesca em verso, Vida e Morte de Tomás Pinto Brandão, Escrita por Ele Mesmo Semivivo, relata os pormenores das suas aventuras pelo Brasil e por África, ao mesmo tempo que dá uma imagem curiosa e interessante do Portugal da época. Publicou também uma recolha da sua poesia satírica, O Pinto Renascido Empenado e Desempenado - Primeiro Voo (1732), em que está incluído um romance em verso sobre Dom Quixote.

Foi um dos maiores críticos de Bartolomeu Lourenço de Gusmão, tendo sido ele quem alcunhou de Passarola o projeto fantasioso de um navio voador divulgado em princípios de 1709 por Gusmão e Joaquim Francisco de Sá Almeida e Menezes

Obras: Prática de três cabeças em três discursos (1729), Descrição da Ponte de Belém (1729), Descrição de Mafra e Função real na sagração do convento de Mafra (1730), A quatro sevandijas (1731) e O Pinto Renascido, empenado e desempenado - primeiro voo (1732).

DÉCIMAS

Senhoras, eu ‘stou picado;
Tenham Vossas Excelências
todas quantas paciências
eu tive no seu chamado;
cuidei que por achacado,
doídas da minha tosse
a meter-me-iam na posse
de uma merenda afamada,
e que achava quando nada
cinco condessas de doce.

Não me enganei, porque alfim
todas vinham cheias grátis
de vanitas vanitatis,
que isto é fofa em latim.
Tomara eu para mim,
por bem ganhada fazenda,
quanta folhage’ estupenda
traziam nas suas rodas,
mas com tal donaire todas
que puxam por muita renda.

Oh! quem pudera cantar
(para bem me vingar dela)
uma que à sua janela
mil vezes vejo Assumar!
Mas obriga-me a calar.
Outra da mesma feição
que é capaz, e com razão,
de prantar-me no focinho,
que farto de S. Martinho
tenho sede a S. João.

Outra branca em demasia
não era tão confiada,
posto que estava enfiada
talvez do que não queria:
mas na flor, na louçania,
na suavidade e na cor,
podia largar o amor
por ela redes e barcos,
porque debaixo dos Arcos
não vi semelhante flor.

Outra tesa de pescoço
me chamou, por embeleco,
magro, quando não sou seco:
velho, quando sou seu moço;
desdentado, quando eu posso
morder (como bem se prova
no estilo da minha trova).
Mas, se a chamar nomes vai,
ouça novas de seu pai,
folgará de Ouvi-la nova.

Outra prezada de prosa,
e em tudo perliquiteta,
bem mostra no ser discreta
quanto seria formosa:
por criar sangue, teimosa
comigo esteve a intender,
e a picar; mas a meu ver
creio que escusava tal;
Pois de sangue em Portugal
veias tem como é mister.

Uma hora de ajoelhar
me tiveram posto ali;
mas se faltaram a si,
eu a mim não sei faltar;
que não quero arrebentar
disso que vim embuchado,
pois sem comer um bocado
por tão vergonhoso meio,
não deixei de vir bem cheio,
porque sal muito inchado.

Enfim, se neste tratado
alguma tenho ofendido,
já me prostro arrependido
de ser tão arrazoado:
já tenho desabafado;
já disse tudo o que quis;
porém neste, enquanto diz
a musa praguejadora,
que qualquer é mui senhora
do seu doce, e seu nariz.


sábado, 10 de fevereiro de 2018

Figuras Públicas

EM MEMÓRIA DE QUEM NASCEU, VIVEU E/OU MORREU EM PARANHOS.
FIGURAS PÚBLICAS DE PARANHOS

 Dr. Pedro Dias 


O Dr. Pedro Augusto Dias era natural de Vieira do Minho, onde nasceu em 1835, frequentou a Universidade de Coimbra e aí recebeu o grau de bacharel em Filosofia, formando-se depois em Medicina em 1860.
Veio então exercer a profissão no Porto, onde concorreu, com José Carlos Lopes e Joaquim Guilherme Coelho (Júlio Dinis) a uma cadeira da Escola Médico-Cirúrgica (1863-64)
Viveu na casa do Campo Lindo, junto à Capela da Srª da Saúde.
Em 1868 foi promovido a lente proprietário da cadeira de Operações, que regeu até à sua jubilação, em 1895.
Faleceu com 96 anos de idade, em 1931.
O Museu de Medicina do Hospital de S. João dedica uma das suas salas a este prestigiado médico.
A Rua que outrora de chamava Calçada do Campo Lindo tomou o seu nome, Rua Dr. Pedro Dias.





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EM MEMÓRIA DE QUEM NASCEU, VIVEU E/OU MORREU EM PARANHOS.
FIGURAS PÚBLICAS DE PARANHOS

Um «indomável beirão da Serra da Estrela» sepultado em Paranhos

RODOLFO A. ABREU (1903 - 1966)

Prestigiado antifascista muito respeitado no Norte do País, este professor destacou-se como pedagogo e também como articulista na imprensa nacional e regional. Conferencista e escritor, defendeu os direitos da criança, promoveu a formação pedagógica da classe docente do ensino primário e bateu-se corajosamente contra a Ditadura do Estado Novo.
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I - Rodolfo de Almeida Abreu nasceu em Seia, em 1903, e morreu no Porto a 8 de Outubro de 1966. Foi casado com Amélia Pais, também professora, e teve duas filhas: Helena Abreu, pintora e professora e Lucília Abreu, professora. Era tio de António Almeida Santos.

Foi em Seia que começou por exercer o magistério, mantendo uma actividade cívica constante. Escrevia regularmente artigos de opinião no jornal A Voz da Serra, assinando-os com o pseudónimo de «João Livre». Eram artigos de formação política de índole progressista, que versavam frequentemente temas de Educação - num esforço permanente de consciencialização do Povo - o que o levou a ser perseguido pela polícia política e acusado de fomentar ideias revolucionárias e anti-religiosas. Contou sempre com a solidariedade popular e, sobretudo, de colegas, mas em 1932 acabou por pedir a transferência para o Porto e, a partir daí, estendeu a sua colaboração a outros órgãos da imprensa regional e local, entre os quais o Notícias de Gouveia, O Povo, O Correio, O Combate, o República (de que foi um colaborador assíduo) e o Diário de Coimbra. Pugnava, então, pela defesa do professorado do Magistério Primário, considerando que era uma classe que o Estado Novo degradava; e denunciava a demagogia das reformas educativas do Salazarismo. Divulgou, pela palavra e pela acção, o documento «Nova Declaração dos Direitos da Criança».
No princípio da década de 40, Rodolfo Abreu já participava activamente no movimento de oposição democrática ao regime do Estado Novo.

Em 1949 apoiou a candidatura de Norton de Matos à presidência da República.
Foi preso pela PIDE em 11 de Abril de 1950, acusado de pertencer ao Partido Comunista Português. Durante a prisão escreveu um diário, «Diário de Prisão», depois completado com o «Diário de Julgamento». Julgado em tribunal plenário, contou com a defesa clarividente e corajosa do advogado António Macedo, tendo sido libertado após meses de cárcere e, depois, reintegrado na função pública.

Em 1958 apoiou a candidatura de Humberto Delgado à presidência da República. 
Foi amigo e camarada de personalidades como Ruy Luís Gomes, Virgínia Moura, Óscar Lopes, Armando de Castro, Raul de Castro, Aquilino Ribeiro, Papiniano Carlos, Amândio Silva, Carlos Cal Brandão, Orlando Juncal, Viriato Moura, Corino de Andrade. 
Como pedagogo desenvolveu várias actividades em prol da inovação pedagógica no Ensino Primário, sendo autor da brochura “Em Defesa do Desenho Expressivo da Criança” (Livraria Divulgação, Porto, 1960), uma obra que teve, então, grande repercussão na didática do desenho.
Foi um dos mais dinâmicos sócios fundadores da Cooperativa SEM – Sociedade Editora do Norte, lançando aí a ideia de uma Universidade Popular.
Foi membro activo da Casa da Beira-Alta no Porto e da Casa Museu Abel Salazar, a cujas direcções pertenceu.

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II - Durante muitos anos, antes do 25 de Abril de 1974 (mas também depois), por ocasião da data da sua morte, os mais destacados oposicionistas do Porto promoviam romagens à sua campa no Cemitério de Paranhos, para evocarem o nome e a obra do ilustre professor. Era uma cerimónia de afirmação antifascista, essa que ocorria regularmente por ocasião do dia 8 de Outubro. Na presença de muitos amigos e populares, algumas figuras da Resistência (tais como Óscar Lopes, António Macedo, Guedes Pinheiro e Flávio Martins) depositavam ramos de flores na sua campa e proferiam discursos, enaltecendo o carácter, a generosidade, o espírito racionalista e solidário, e a lucidez crítica de Rodolfo Abreu, considerado um «indomável beirão da Serra da Estrela» (1).


Depois do 25 de Abril a Câmara Municipal do Porto deu o seu nome a uma rua daquela cidade.

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III - O primeiro dia, no DIÁRIO DE PRISÃO
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Dia 11 de Abril de 1950
Tive, na véspera, oito horas de trabalho fatigante, daquele trabalho que só um professor primário conhece a medida. Descansava ainda pelas sete horas, quando a minha mulher ouviu a velha criada a dizer para alguém: “os senhores venham às nove horas que o senhor professor está ainda a descansar...”
Os agentes deviam ter-se rido da ingenuidade da Teresa. “Cinquenta e cinco anos que eu tenho e nunca vi uma coisa assim! Entrarem em casa àquela hora e sem pedirem licença!” – exclamou depois.
Um homem mal encarado (era o Pinto Soares) entra no meu quarto, sem o menor respeito pelo ambiente íntimo dum casal e convida-me a levantar. Entretanto, começa uma minuciosa busca em toda a casa, enquanto outro agente me acompanhava ao quarto de banho.
A minha mulher chorava e acusava a polícia da grosseria praticada ao mesmo tempo que os avisava de que sabia usarem de violências. Fez-se ouvir uma ameaça da parte do chefe de brigada, mas não produziu efeito porque minha mulher respondeu que de tal fama se não livravam.
Minha filha Lucília, mais serena, acompanha o Puga ao andar superior, onde tudo revolve e põe em desordem.
É-me permitido tomar o pequeno almoço, o que teve um paladar diferente dos outros dias. Entretanto, encontrava-me imperturbável. E lá vou eu num enorme carro, bem guardado por sete agentes. Tanta gente armada para um homem indefeso. (...)

Nota:
(1) Das notícias, nos jornais da época, dessas romagens de saudade, destacamos a realizada no 2º aniversário da sua morte (1968), que contou com uma centena e meia de pessoas (um número muito elevado, tendo em conta a repressão a que ficavam sujeitas nestas iniciativas), e na qual Óscar Lopes foi o principal orador; encontramos também especial referência a uma outra, essa após o 25 de Abril de 74, de cuja comissão promotora fizeram parte, entre muitos outros, Ruy Luís Gomes, Virgínia Moura, Lobão Vital, Óscar Lopes e José Morgado.

.Biografia em co-autoria de Helena Pato e Francisco Abreu Pessegueiro, neto deste resistente antifascista. Escrita a partir de alguns dados biográficos facultados por FAP e de diversas notícias da imprensa da época. As fotografias anexadas em comentários foram facultadas pelo referido neto.

Texto de:

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MARQUES DA SILVA – O ARQUITECTO DO PORTO
Texto de César Santos Silva

José Marques da Silva nasceu em Paranhos no ano de 1869. Seu pai, Bernardo Marques da Silva, foi o fundador da primeira empresa mecânica de mármores que a cidade conheceu. Esta situação foi importante para Marques da Silva, já que foi possível ao futuro arquitecto ter a ajuda económica dos pais aquando da sua ida para o estrangeiro a fim de concluir os estudos. Na Escola de Belas Artes, Marques da Silva teve aulas com os melhores professores da época: Geraldo Sardinha, Marques de Oliveira, Soares dos Reis, etc.
Em 1889, vai para Paris para concluir os estudos e aqui convive com Teixeira Lopes, Veloso Salgado e com os franceses Binot e Chamut, entre outros.
Em 1896, com o curso já concluído, concorre ao Monumento a Afonso de Albuquerque (com a colaboração de Teixeira Lopes) e obtém o terceiro lugar. Concorre ainda ao projecto do Monumento ao Infante, no Porto e ao projecto da reconstrução dos Jerónimos. De referir que este projecto esteve exposto em Paris na Exposição Universal de 1900, mas que se perdeu na vinda para Portugal por causa de um naufrágio que o navio sofreu!
De regresso ao nosso País é encarregue de dirigir as obras da Igreja de S. Torcato em Guimarães e, em 1902, é nomeado professor do Instituto Industrial e Comercial do Porto. Em 1907, é nomeado professor de arquitectura da Academia Portuguesa de Belas Artes por vaga, devido ao falecimento de seu mestre José Geraldo Sardinha.
Foi no Porto que José Marques da Silva teve o grosso da sua produção. Das suas inúmeras obras temos a salientar:
– Estação de S. Bento (1896-1900), construída no local onde esteve durante séculos o Convento de S. Bento de Avé-Maria;
– Monumento à Guerra Peninsular (1909), na Praça Mouzinho de Albuquerque (Rotunda da Boavista), aqui com a colaboração do escultor Alves de Sousa;
– Teatro S. João (1909), no local onde esteve instalado outro teatro com o mesmo nome, mas que foi devorado pelo fogo em 1908;
– Edifício dos “Grandes Armazéns Nascimento” (1914) onde posteriormente foram instaladas as “Galerias Palladium” e onde hoje está a “C&A” e a “FNAC”;
– Edifícios da “Nacional” e do Banco Inglês (actual BBVA) (1919) que estão no início da Avenida dos Aliados, à esquerda e à direita respectivamente;
– Liceus Alexandre Herculano (1914) e Rodrigues de Freitas (1918);
– Capela-mor da nova igreja de Cedofeita;
– Casa de Serralves (1925);
– Casa-atelier onde Marques da Silva viveu, na Praça Marquês de Pombal, 44 e onde está instalada a Casa Museu dedicada ao legado do Arquitecto.
Em quase todas as obras de Marques da Silva, e no dizer do arquitecto Nuno Tasso de Sousa, “emerge uma cultura afrancesada, majestosa e sensível à grande urbanidade”. Face ao que foi acima exposto, podemos afirmar que, pela quantidade e qualidade da obra, Marques da Silva é sem dúvida o arquitecto que mais marcou o Porto no século XX. Não só no que construiu, mas também na influência que teve nos arquitectos modernistas, como Manuel Marques, Rogério Azevedo, Januário Godinho, etc., assim como nas gerações sucessivas com nomes como Fernando Távora, Júlio de Brito, Siza Vieira, Souto de Moura, etc., nomes que tornaram famosa a Escola do Porto.
Para perpetuar a memória do arquitecto na toponímia da cidade, a Câmara Municipal do Porto decidiu em 1964 mudar o nome da então Viela da Friagem para Rua do Arquitecto Marques da Silva. Esta artéria fica na zona do Bom Sucesso e liga as ruas do Campo Alegre e Gonçalo Sampaio.