sábado, 17 de março de 2018

Outros Tempos...

Ornamentações no cruzamento da Estrada da Circunvalação com a Rua do Amial - 1964














Cruzamento da Rua Conde de Avranches com a Rua do Dr. António Bernardino de Almeida, envoltos em campos de cultivo. Ao fundo as traseiras do Hospital Escolar de S. João. 1961



terça-feira, 13 de março de 2018

Desporto

PORTUGAL-ITÁLIA, DISPUTADO HÁ 90 ANOS…no Campo do Ameal!

Foi o décimo quarto jogo da selecção nacional e o terceiro no campo do Ameal (Porto), e aquele que, no final da tarde de 15 de Abril de 1928 (domingo), deu uma enorme alegria aos portugueses com a retumbante vitória conquistada perante uma das mais fortes equipa europeias! Esta partida amigável foi de preparação com vista aos Jogos Olímpicos de Amesterdão, onde veio a actuar a equipa de todos nós (27 de Maio a 4 de Junho). Antes, porém, outros dois encontros já se tinham disputado naquele campo, em 24.01.1926, com a Checoslováquia (1-1) e com a Hungria, a 26.12.1926, que se saldou num novo empate (3-3).
Desta feita, o resultado final foi robusto e convincente, e logo por 4-1, com golos de Waldemar Mota (3, aos 20, 27 e 77 minutos) e Vítor Silva (57 minutos). O golo italiano foi obtido por Júlio Bibonatti, aos 38 minutos. A baliza dos italianos ainda tivera duas bolas nos postes. Presenciaram milhares de adeptos, vindos de todo o lado, com grande representação de Lisboa que chegou em comboio especial saído na véspera de Santa Apolónia às 23H30.
Neste jogo, que se iniciou às 15H28 (preciosidade relatada pelos jornais da época) e a segunda parte às 16H35, as selecções equiparam da seguinte forma: Portugal, camisola Vermelha e calção azul. Itália, camisola azul e calção branco…
Antes, porém, os capitães trocaram ramos de flores, o que era usual naquele tempo… A Itália escolhe o seu meio campo a favor do sol, mas contra o vento… Na primeira parte, aos 15 minutos, o português Vítor Silva na área de grande penalidade italiana é atingido com um soco na cara que o leva ao chão.
O Árbitro nada assinala mas o público invade o rectângulo em protesto e o jogo é interrompido, por breves momentos. O nosso jogador regressa, recomposto, cinco minutos depois… No final do jogo a multidão, eufórica e feliz, promovera muitas manifestações de regozijo quer dentro que fora do campo.
Entrevistado, o Árbitro do encontro, disse: “Os portugueses jogaram com muita energia, no entanto considero a técnica italiana superior. Acho que as bolas dos portugueses foram admiráveis de precisão, denotando uma sensível intuição de “association”. Os portugueses, que vejo jogar pela primeira vez, devem constituir muito em breve uma poderosa equipa internacional”.
Já o capitão italiano, Adolfo Baloncieri, expressou o seguinte: “O grupo português fez muitos progressos desde a jornada de Turim, tendo adquirido extraordinária velocidade. As bolas dos portugueses foram bem marcadas, mas devidas um pouco do nosso nervosismo e desorientação.”
Selecção Nacional em 1928
Recorde-se que foi a 17.04.1927 que a selecção portuguesa foi a Turim e perdeu por 1-3, com arbitragem do espanhol Luís Collina. Desta feita, após o jogo foi servido um banquete às duas equipas no Grande Hotel do Porto, com a presença de mais de cem convivas. No dia seguinte foi proporcionada uma visita ao Minho e à noite estiveram numa récita promovida pelos Bombeiros Voluntários do Porto. Os italianos regressaram a casa na terça-feira.






CURIOSIDADES:
1 - Na véspera do encontro o jornalista foi recolher a opinião dos jogadores ao Hotel e logo na sala de fumar, enquanto jogavam à bisca milanesa…
2 - Anúncio publicado imediatamente a seguir ao relato do jogo: “Todos os bons sportsmen devem usar antes e depois dos seus exercícios a EMBROCAÇÃO SPORT, preparação da Farmácia Figueiredo, do Porto”.
3 – A delegação do Diário de Notícias, do Porto, transmitiu as incidências do despique pelos placards colocados nas principais cidades do norte, assim como em Lisboa, no Parque Eduardo VII, onde estiveram milhares de pessoas a assistirem.
O placard consistia num painel de grande dimensões colocado num sítio alto, onde aparecia o desenho do campo e da bola, com esta a movimentar-se sempre que assim se verificava.
Os jornais consultados para esta reportagem, foram: Diário de Notícias, edição 22.348 e 49, de 15 e 16.04.1928 (64º ano) e custava a unidade 30 cêntimos. Jornal de Notícias, edição 89 e 90, de 15 e 17.04.1928 (custo 20 cêntimos). Todos eles visados pela Comissão de Censura.
As fotos foram obtidas, com a devida vénia, de FLICKR/Galeria de Biblioteca de Arte da Fundação Calouste Gulbenkian. As imagens dos jogadores foram recolhidas da “Colecção Internacionais da Bola de Todos os Tempos”, da Agência Portuguesa de Revistas. O desafio foi dirigido pelo belga Henry Christophe (n. 23.07.19984 e faleceu em 17.06.1968), que haveria de estar nos Jogos Olímpicos e no I Campeonato Mundial de Futebol 1930-Uruguai.
"Alberto Helder"

Figuras Públicas

EM MEMÓRIA DE QUEM NASCEU, VIVEU E/OU MORREU EM PARANHOS.
FIGURAS PÚBLICAS DE PARANHOS

Tomás Pinto Brandão - Poeta

Nasceu em 12 de Março de 1664, na Aldeia do Couto, em PARANHOS, Porto, falecendo em 1743.
Diz Camilo no Cancioneiro Alegre que «era o coronel, o pontífice dos poetas biltres do século XVIII». Acrescenta que «rivalizou com o brasileiro Gregório de Matos no calão de bordel. As suas poesias honestas são más; as fesceninas avantajam-se em graça às de Bocage. No tempo de Tomás Pinto, e do Camões do Rossio, do Lobo e de Frei Simão António de Santa Catarina, cinzelavam-se os rendilhados de uma poesia obscena com buril delicado."
Partiu para o Brasil na companhia do poeta e amigo Gregório de Matos e aí, devido à sua irreverência em matéria de religião, foi preso. Condenado ao degredo em Angola, apaixonou-se pela sobrinha de uma rainha africana. Mais tarde casou, mas foi vítima de um processo movido pela sogra, situação que utilizou de forma satírica para escrever um soneto no mais puro estilo barroco. O seu regresso a Portugal ficou marcado por uma nova condenação e prisão. Conseguiu livrar-se dessa situação graças ao apoio de alguns fidalgos que apreciavam as suas sátiras. Na sua autobiografia burlesca em verso, Vida e Morte de Tomás Pinto Brandão, Escrita por Ele Mesmo Semivivo, relata os pormenores das suas aventuras pelo Brasil e por África, ao mesmo tempo que dá uma imagem curiosa e interessante do Portugal da época. Publicou também uma recolha da sua poesia satírica, O Pinto Renascido Empenado e Desempenado - Primeiro Voo (1732), em que está incluído um romance em verso sobre Dom Quixote.

Foi um dos maiores críticos de Bartolomeu Lourenço de Gusmão, tendo sido ele quem alcunhou de Passarola o projeto fantasioso de um navio voador divulgado em princípios de 1709 por Gusmão e Joaquim Francisco de Sá Almeida e Menezes

Obras: Prática de três cabeças em três discursos (1729), Descrição da Ponte de Belém (1729), Descrição de Mafra e Função real na sagração do convento de Mafra (1730), A quatro sevandijas (1731) e O Pinto Renascido, empenado e desempenado - primeiro voo (1732).

DÉCIMAS

Senhoras, eu ‘stou picado;
Tenham Vossas Excelências
todas quantas paciências
eu tive no seu chamado;
cuidei que por achacado,
doídas da minha tosse
a meter-me-iam na posse
de uma merenda afamada,
e que achava quando nada
cinco condessas de doce.

Não me enganei, porque alfim
todas vinham cheias grátis
de vanitas vanitatis,
que isto é fofa em latim.
Tomara eu para mim,
por bem ganhada fazenda,
quanta folhage’ estupenda
traziam nas suas rodas,
mas com tal donaire todas
que puxam por muita renda.

Oh! quem pudera cantar
(para bem me vingar dela)
uma que à sua janela
mil vezes vejo Assumar!
Mas obriga-me a calar.
Outra da mesma feição
que é capaz, e com razão,
de prantar-me no focinho,
que farto de S. Martinho
tenho sede a S. João.

Outra branca em demasia
não era tão confiada,
posto que estava enfiada
talvez do que não queria:
mas na flor, na louçania,
na suavidade e na cor,
podia largar o amor
por ela redes e barcos,
porque debaixo dos Arcos
não vi semelhante flor.

Outra tesa de pescoço
me chamou, por embeleco,
magro, quando não sou seco:
velho, quando sou seu moço;
desdentado, quando eu posso
morder (como bem se prova
no estilo da minha trova).
Mas, se a chamar nomes vai,
ouça novas de seu pai,
folgará de Ouvi-la nova.

Outra prezada de prosa,
e em tudo perliquiteta,
bem mostra no ser discreta
quanto seria formosa:
por criar sangue, teimosa
comigo esteve a intender,
e a picar; mas a meu ver
creio que escusava tal;
Pois de sangue em Portugal
veias tem como é mister.

Uma hora de ajoelhar
me tiveram posto ali;
mas se faltaram a si,
eu a mim não sei faltar;
que não quero arrebentar
disso que vim embuchado,
pois sem comer um bocado
por tão vergonhoso meio,
não deixei de vir bem cheio,
porque sal muito inchado.

Enfim, se neste tratado
alguma tenho ofendido,
já me prostro arrependido
de ser tão arrazoado:
já tenho desabafado;
já disse tudo o que quis;
porém neste, enquanto diz
a musa praguejadora,
que qualquer é mui senhora
do seu doce, e seu nariz.