Património Natural

Jardim de Arca d'Água (Praça 9 de Abril)



O Jardim de Arca D’Água, na Praça 9 de Abril, foi projectado por Jerónimo Monteiro da Costa e inaugurado em 1928. Apresentava então um lago e uma imponente gruta, bem ao gosto romântico da época. Na altura da sua inauguração plantou-se uma centena de plátanos a delimitar as largas alamedas laterais. Este projectista também desenhou outros jardins do Porto, tais como o da Boavista, do Infante, da Praça da República, do Carregal e de Carlos Alberto.
O jardim deve o seu nome às 3 nascentes de Paranhos (Arca d’Água) que foram o sustento de muitas fontes e chafarizes do Porto, até finais do século XIX. 
Neste local, num descampado largo, desenrolou-se no séc. XIX um célebre duelo que ficou nos anais da história da cidade entre Antero de Quental e Ramalho Ortigão.
Entre 1903 e 1916 realizava-se neste largo a grande feira de S. Miguel, vinda do Largo da Boavista. Em 6/4/1922 o jardim passou a chamar-se 9 de Abril. Mudaram este topónimo antigo para Praça 9 de Abril. por forma a evocar o terrível combate de 1833, entre os absolutistas (fieis a D. Miguel) entrincheirados no alto do Covelo e os liberais (D. Pedro).
Outros estudiosos da toponímia portuense defendem que este nome "9 de Abril", evoca a batalha de La Lys (da primeira guerra mundial) em que participaram muitos portugueses. Mas seja por que guerra for, na verdade os portuenses conhecem este espaço por Jardim de Arca d'Água. Lembremos os nomes da Praça da República, Cordoaria e outros de que ninguém se lembra do verdadeiro nome do jardim.
Destacam-se desde logo os grandes plátanos, magnólias e cedros, o lago e a gruta, o coreto e a escultura "A família" de Charters de Almeida (1971).















Manancial de Paranhos

Também é conhecido por Manancial de Arca d’Água e Manancial das Três Fontes de Paranhos. Não é possível determinar a época em que foi iniciada a exploração desta água. Sabe-se que em 1120 já existia uma fonte em Paranhos, mas em meados do século XV existiam três fontes no local, pelo que era referenciado por arca das três fontes de Paranhos. O aumento populacional e a falta de água potável, apesar do grande número de fontes existentes em 1594, dentro dos muros, levou a que se fizesse uma petição ao rei D. Sebastião, solicitando autorização para trazer à cidade a água de Paranhos, para a qual estavam dispostos a ajudar nas despesas com 1000 cruzados para ajudar nas custas como contribuição. O rei acedeu, mas nada se fez no seu reinado. Só mais tarde, a 20 de Novembro de 1597, é que o rei D. Filipe I (1527-1598) emitiu um alvará que permitia a construção da dita obra. Para avaliar a viabilidade da obra providenciou no sentido de estimar os custos e indemnizações a pagar aos donos dos terrenos que seriam atravessados pelo encanamento. Após esta avaliação emitiu o dito alvará que permitia à Câmara pagar a obra com os rendimentos da Imposição do Vinho e Sal e dos excedentes do crescimento das sisas, mais os 1000 cruzados doados pelo povo. Esta provisão só foi registada em chancelaria a 9 de Abril de 1598.
A obra foi adjudicada em finais de 1603, tendo sido efectuado o primeiro pagamento a 11 de Fevereiro de l604, para compra de materiais. os mestres pedreiros Pantaleão Brás e Manuel Gonçalves, conjuntamente com os pedreiros Gonçalo Vaz, Gaspar Gonçalves e António João haviam lançado o orçamento de 3295$700 reis, incluindo nesta verba não só a condução da água à Porta do Olival, mas também a sua canalização para o chafariz de S. Domingos.
A primeira pedra foi colocada em 1603, numa cerimónia solene com um ambiente festivo. Contudo as obras só terão começado a 12 de Março de 1604, prosseguindo até 17 de Setembro de 1605. Em meados de 1606 a água já chagava aos chafarizes de S. Domingos e da Rua Nova, mas a vistoria da obra só foi realizada no inicio de 1607 (daí a ideia de muitos autores referirem que a água deste manancial chegou à cidade neste ano), porém o último pagamento só foi efectuado nos finais de 1608.
Obviamente, este manancial não era o único que abastecia a cidade, mas era o mais importante devido à qualidade e quantidade de água que dispunha. A sua nascente encontrava-se, localizada nos arrabaldes, no subsolo do jardim da actual Praça 9 de Abril, mais conhecido como Jardim da Arca d’Água. Jorrando no solo da arca, a partir de várias nascentes existentes no local, as águas seguiam por um aqueduto de pedra em galeria, indo alimentar várias fontes ao longo do seu percurso.
A água seguia da Arca d’Água, depois de atravessar a Estrada de Braga, pela alameda do Agueto, até ao lugar do Regado. Dali seguia em arcos pelo Monte Pedral e atravessava vários campos até ao Lugar do Ribeirinho. Atravessava várias propriedades até passar por trás dos Ferradores e terminar na Porta do Olival. A canalização não obedecia a um só plano de construção. Parte dela era em canos de pedra, fechados ou abertos, outra parte era em canos de barro ou em grés.
Segundo Padre Baltazar Guedes, o percurso de abastecimento do manancial de Paranhos, no ano de 1669, iniciava-se na Arca e seguia até à estrada de Viana, alcantilada em arcos, onde havia uma bica de pedra. Dali seguia por campos até à Rua de Cedofeita, onde passava a correr no subsolo, mas logo subia à superfície em passadiços de pedra, voltando para o subsolo na Quinta que pertencia a António Rodrigues Marques.
Seguia até uma pia de pedra, que recebia água da arca dos Padres Bentos, e continuava até à Igreja do Carmo para dirigir-se para o Chafariz da Vila Parda. Depois, descia até uma arca, mandada construir pela Câmara e servia o Colégio dos Meninos Órfãos e o povo. Seguidamente, percorria uma légua e meia sob arcos e no fim continha uma fonte que dividia a água em duas partes: a da direita seguia para o Chafariz da Porta do Olival, e para o repuxo da Ermida do Anjo; a da esquerda passava por baixo da Porta do Olival e chegava até uma travessa que dava para a do Ferraz, onde fornecia três penas de água ao Hospital de Roque Amador, daqui seguia pelo Beco do Ferraz e entrava na Rua das Flores, onde voltava a dividir-se, indo uma das ramificações abastecer o Chafariz abaixo da Misericórdia, e a outra seguia rua abaixo, em dois canos, que fornecia água a uma pia, e seguindo por São Domingos, pela Rua das Congostas até ao Chafariz da Rua Nova.

Várias vistorias feitas ao longo dos tempos deram conta de fugas de água e do mau estado da canalização, obstruída por pedras e raízes de árvores, dando lugar a sucessivas obras de beneficiação. Em 1789, a Junta das Obras Públicas contratou o sargento-mór Francisco Rodrigues Mendes para estudar o percurso do aqueduto de Paranhos, acabando por dirigir a obra deste.
Mas em 1825, como a água continuava a derramar-se, uma nova vistoria levou a Câmara a decidir não só reformar a Arca como também a modificar o encanamento e o seu primitivo traçado. Também, preocupada com a conspurcação das águas, mudou o local da fonte e dos lavadouros públicos que existiam a nascente da Estrada de Braga, para o lado poente, onde ainda se encontram.
No mesmo ano, na sessão da Junta das Obras Públicas de 16 de Setembro, foi aprovado que devia incorporar-se outro aqueduto que já se encontrava em construção desde 1789, que provinha do manancial de Salgueiros, que tinha origem na actual Rua Antero de Quental, onde existiam várias nascentes, de modo a fazer a mistura das duas águas na Arca do Anjo, reforçando o caudal disponível.
Estes dois mananciais alimentavam um lavadouro público, um tanque e um conjunto de várias fontes e chafarizes que abasteciam a população. Sabe-se que a partir do século XVII, forneceu água aos seguintes fontanários e chafarizes públicos: fonte da Arca d’Água; fonte do Matadouro Público de Paranhos; fonte da Bica Velha; fonte do Carvalhido; chafariz da Vila Parda; fonte da Boavista; fonte da rua de Cedofeita.
A mistura das águas de Paranhos com as do manancial de Salgueiros na Arca do Anjo seguia para os seguintes: chafariz do Mercado do Anjo; chafariz do Mercado do Peixe; chafariz da Porta do Olival; fonte das Taipas; fonte da Colher; fonte dos Banhos.
Este complexo sistema de abastecimento levou muitos autores a homenagear e demonstrar o seu respeito pelos portuenses da época moderna por conseguirem realizar uma obra gigantesca com a abertura dos subterrâneos.






Plano topográfico de todos os caminhos, lugares, e propriedades, por onde passa o encanamento da água que vem da Arca de Paranhos ao novo aqueduto de Salgueiros e daí para a cidade 1826.




Encontro das minas dos mananciais de Salgueiros e de Paranhos


Segundo troço da mina







Distribuição de águas dos mananciais de Paranhos, na Estrada de Braga - 1850


A: Receptáculo das Águas de Paranhos
B, C e D: Mananciais confluentes ao depósito geral e aqueduto
E: Aqueduto
F: Rio das Lavadeiras
G: Rio com águas muito baixas

Local de consulta: Arquivo Histórico


Manancial de Paranhos

Canal História



Quinta do Covelo


Desenho a óleo de Silva Porto. Reprodução fotográfica de Teófilo Rego, em 1951


Foi uma nobre propriedade setecentista, como atesta a sua traça, e era conhecida como a Quinta do Lindo Vale, ou da Boavista. O seu primeiro proprietário foi um fidalgo chamado Pais de Andrade e terá sido herdada pelas suas filhas que a venderam a um rico negociante chamado Manuel José do Covelo,  desde então que assim ficou conhecida.
Por sua morte, foi sepultado na capela que era então devotada a Santo António, sendo a quinta depois vendida pelos seus descendentes em 1829 ou 1830, a Manuel Pereira da Rocha Paranhos.
A sua sorte foi breve e o seu fado foi ditado pelo cerco de D. Miguel ao Porto, cujas tropas ali se instalaram com batarias que metralharam a cidade durante neste nefasto capitulo da história portuense.
O alto do Covelo, a que popularmente se chamava "o monte", foi considerado pelas tropas absolutistas como o sítio ideal para montar a artilharia que havia de metralhar o centro do Porto e vigiar as movimentações de civis no sentido de impedir, por exemplo, que os lavradores de Paranhos introduzissem na cidade mantimentos e outros viveres através da estrada da Cruz das Regateiras. E com estes propósitos criaram uma autêntica fortificação na Quinta do Covelo.
A sua localização não só privilegiava a linha de fogo, como também impedia o abastecimento dos sitiados, tornando-a num valioso ponto estratégico que fustigava diariamente a cidade e infligia pesadas baixas. A 16 de Setembro de 1832, foi tomada pelas tropas liberais num assalto com mais de 1400 homens, tendo sido palco de um violento combate desta guerra fratricida.  A quinta foi incendiada e destruída nessa ocasião, e desde então que os seus escombros testemunham  este triste e sangrento episódio.





Mas a vitória foi de pouca duração, pelo seu valor estratégico foi novamente conquistada pelas tropas absolutistas, em Março de 1833.
Tendo iniciado o seu urgente reforço como reduto para garantir a sua posse, levantaram paliçadas para se defender um novo ataque, mas D. Pedro reagiu de imediato, e a 9 de Abril recomeçou o assédio a esta fortaleza. O ataque foi liderado , com bombardas de artilharia, pelo coronel José Joaquim Pacheco, que, mais tarde, viria a morrer, em combate, na Areosa. A cidade, agradecida, deu o seu nome à antiga Praça do Mirante que é hoje a Praça do Coronel Pacheco. 
Cruzando os fogos de três outras batarias, castigaram severamente este bastião durante todo o dia,  desalojando as tropas de D. Miguel pondo-as em fuga, tendo sido ocupada por uma força de 200 homens. 

Uma crónica da época refere esta segunda tomada do Covelo pelos liberais, da seguinte forma "… a 7 de Abril descobriu-se a longa estacada feita pelos miguelistas desde as primeiras casas de Paranhos até às eiras do Covelo. Queriam fortificar-se ali. Não havia tempo a perder. Era preciso desalojá-los. A artilharia dos liberais começou a responder desde as primeiras horas da manhã do dia 9 e durou o fogo até ás seis da tarde. Cruzaram-se os fogos das baterias da Glória (Lapa), do Pico das Medalhas (Monte Pedral), do Sério (alto da Lapa), da Aguardente (Marquês de Pombal) e de S. Brás. Uma força de mil homens saiu fora das linhas parta tomar de assalto o monte do Covelo. Mas no dia seguinte (10 de Abril) os absolutistas voltaram com o intuito de retomarem as posições perdidas e onde os liberais haviam levantado um reduto em menos de oito horas. Estavam lá dentro apenas 200 soldados. Foram atacados por mais de 2000 do inimigo. Foram momentos decisivos. Duzentos homens livres conseguiram pôr em fuga 2000 do inimigo…" 










Jornal de Notícias - Germano Silva

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