Património Histórico

PARANHOS

      A existência de Paranhos chega a anteceder a fundação do Condado Portucalense. Nesse período, Paranhos era habitada por mouros que viveram nesta região até ao século X, tendo a denominação Paramio. Esta terra foi crescendo posteriormente em torno da sua igreja, que foi edificada por lavradores abastados no século X. À sua volta foram lentamente nascendo casais e quintas. O Couto de Paranhos foi instituído por Dona Teresa, mãe de Dom Afonso Henriques, a favor da Igreja Portucalense.

O topónimo Paranhos, na opinião de alguns historiadores, como Andrêa da Cunha e Freitas, quer dizer amparado ou defendido por honra "… amparam o amo enquanto é vivo, e desde que os amos são mortos, amparam o lugar pondo-lhe o nome de Paranho, isto é amparado ou defendido por honra…tendo havido as seguintes formas: Paranhos, Paranho, Paramos, Paramo. Mas esta não é a única versão sobre a origem do nome de Paranhos. Conta uma antiga lenda que possuindo esta terra boas e grandes pastagens era frequentada por inúmeras cabeças de gado lanígero e caprino e que os pastores costumavam recolher-se a uns casotos (pequenas cabanas de madeira) para se abrigarem da intempérie.

Dizia, então, o povo que os ditos casotos eram mais próprios PARA- A-NHOS do que para os pastores e daí o nome de PARANHOS.

    A "Vila de Paranhos" que, como as "vilas" romanas eram propriedades rústicas de recreio, em 1130 era citada em escritura do Cabido, e já citada em 1035 e 1048.
  Paranhos pertenceu de 1519 até 1837 à “Terra da Maia”. A Maia tornou-se concelho independente em 1834 e Paranhos, que em 18 de Julho de 1835 obteve a sua Junta da Paróquia (Freguesia desde 1910), com a sua primeira sessão em 1836, passou a fazer parte das freguesias do Porto em 27 de Setembro de 1837. Nesta data, a população da freguesia era de aproximadamente 2.500 habitantes. 
    Paranhos caracterizava-se, então, como uma terra essencialmente rural, profundamente arborizada e agrícola. Possuía águas, hortas, pomares, jardins e casas de lavoura com gado. Começou por ser um conjunto de oito pacatas aldeias – Regado, Agueto, Couto, Igreja, Lamas, Tronco, Carvalhido, Vale – com pastos verdejantes e campos de cultivo. 
     No século XIX formaram-se os lugares do Covelo e Matadouro. Embora o povo fale de rios, a verdade é que Paranhos nunca teve rios ou afluentes. Possuía sim uns regatos, como o Manga e o Travessas, que serviam para alguns lavradores regarem os seus campos, e nascentes de excelente qualidade e quantidade, como as da Arca D’Água, que abasteceram os chafarizes, fontes e fontanários da cidade a partir de 1597. Em 1886, o Porto passou a ter água canalizada e as fontes públicas foram desaparecendo. Em 1950, Paranhos ainda fornecia água às fontes do Regado, Outeiro, Barrocas, Manga e Azenha.
     Desde 1341, Paranhos foi antigo Couto dos Bispos. Pertenciam à igreja, entre outras, as seguintes quintas:
  • Quinta do Regado, sita ao actual Bairro do Regado.
  • Quinta do Tronco, sita às actuais ruas do Amial e Nova do Tronco.
  • Quinta do Paço, sita às actuais ruas Dr.Manuel Laranjeira, Pereira Reis, Assis Vaz, Luís Woodhouse, Pedro Teixeira e do Relógio.
  • Casal do Couto, sito às actuais ruas do Vale Formoso, Campo Lindo, Luz Soriano e Praça Nove de Abril.
     Havia no século XII a quinta do Regado. Houve diversos emprazamentos: Pedro Marinho foi um dos enfiteutas. Em 1480/1533, a família Carneiro. Em 1557 emprazamento a Ana Bravo, tendo sido herança de sua filha Dona Helena Carneira casada com Luís Carneiro. Gente de muita importância. O Couto já vinha do século XII estando nisso envolvido um cavaleiro da Ordem de S. João de Jerusalém (Ordem de Malta). Foi para remissão da dívida de "18 jantares", devidos ao Mosteiro de Leça, em que "jantar" era um tributo a pagar pela visita do Bispo e Cónegos aos mosteiros e à Igreja.
     Havia o casal da Vale, que gerou as ruas de Aval de Cima e Aval de Baixo e fazia parte da Quinta do Paço que ia da Cruz das Regateiras (largo da Cruz) por grande extensão. Em frente está o Hospital Conde de Ferreira, onde era Lamas.

    As Memórias Paroquiais de 1758 registam na freguesia de Paranhos a existência de 15 aldeias, a saber Regado, Agueto (Colégio Luso-Francês), Couto, Igreja, Lamas, Tronco, Carvalhido, Vale, Cruz da Regateira, Antas, Travessa, Amial, Azenha, Bouça e Cabo.

    Há, depois, as quintas Outeiro, Casal (Rua Delfim Maia), Azenha, Telheira, Agra, Estrada, Monte Velho, Eira, Padrão, Pereira, Tojo de Lamas, Gandra do Vale, Aval, Covelo, Cortes, Regueiras (R. Luís Aguiar) e Asprela.
A esta riqueza toponímica temos que acrescentar, ainda, os nomes de alguns casais e campos Couto, Fonte do Pereira, Coalhães (Rua Dr. Manuel Laranjeira), Barrocas, Arroteias, Patusca, junto a Costa Cabral, sitio de grandes patuscadas; e ainda Crispelos, Carriçal, Marco e Chão dos Espinheiros.

    Posteriores à data da elaboração das referidas Memórias Paroquiais apareceram mais estes lugares Aguardente (1764); Novo do Monte (1779); e Agrinhas (1818).

    Ora, foi ao longo das antigas aldeias, quintas e casais que se rasgaram muitas das artérias da freguesia e algumas delas mantiveram a denominação de origem, como é o caso das travessas da Bouça, das Cortes e da Asprela; as ruas do Amial, Azenha, Antas, Aval de Cima e Aval de Baixo, Arroteia, Covelo e Barrocas, para citar apenas alguns exemplos. Noutros casos houve mudanças de nomes. Como aconteceu com o Largo da Aguardente que, a partir de 1882, passou a chamar-se Praça do Marquês de Pombal.

    A Travessa de Cortes pertencia ao lugar de Cortes em 1766, emprazado ao P. Manuel Duarte. Incluía as agras de Oliveira e de Cortes, onde havia cortes de gado. Partilha de Lamas fez nascer 4 casais. No século XIX foi vendido à viscondessa de Roriz, da família Morais Sarmento. Nesse local foi aberta a Rua Júlio de Matos, médico do Hospital do Conde de Ferreira. Rua Fonte do Outeiro derivada da fonte existente na Bouça da Fonte do Outeiro. Na Aldeia da Vale havia mais fontes ou cisternas. 

     Com base no Catálogo dos Bispos do Porto de D. Rodrigo da Cunha, sabemos que em 1623, Paranhos contava apenas com 246 habitantes. No ano de 1687, existiam em Paranhos 466 habitantes. Em 1758, segundo dados cedidos pelo pároco, o Reverendo João Carneiro da Silva havia nesta freguesia 806 habitantes. Em 1766, Paranhos contava com 946 habitantes e em 1801, há escritos que dão conta de 1541 habitantes na freguesia.
     Ao longo dos séculos, mas principalmente no decorrer do século XX, Paranhos sofreu alterações imensas ao nível da sua ocupação e, por consequência, ao nível do seu quotidiano. No final do século XIX, com uma população pouco superior a 5.000 habitantes, a qual, na sua maioria, se dedicava à agricultura.
      A transformação da sua traça original, marcadamente rural, num perfil assumidamente urbano, teve início no século XX, com a construção de prédios e pavimentação dos “caminhos”. Desde 1959, cerca de cinquenta hectares de terras de cultivo, antigos espaços verdes, deram lugar à construção de edifícios. Seguiu-se a melhoria dos arruamentos que ligam a freguesia ao centro da cidade, e, já no final do século XX, a construção da Via de Cintura Interna. Actualmente, a população residente de Paranhos ascende a 44.298 habitantes (20.051 homens e 24.247 mulheres), acrescida de uma população flutuante de aproximadamente 5.500 habitantes, na sua maioria estudantes do ensino superior.
     Contudo, apesar do perfil urbano que hoje apresenta, é possível ainda identificar em Paranhos traços do seu passado, sinais da sua história. O atendimento personalizado do padeiro e do merceeiro, a procissão da Senhora da Saúde, o grande número de fontanários existentes na freguesia, assim como a sua toponímia, guardam em si mesmos os sinais da mudança e conservam as memórias de outrora.
     Conta-se que, em tempos idos, a vida das gentes de Paranhos era sossegada. Era a vida de aldeia e tudo era verde, simples, da terra. De aldeia, a freguesia de Paranhos nada tem hoje. Terra de grandes senhores, donos de casas faustosas, alguns desses abastados nutriam, todavia, o mesmo amor à freguesia que o povo, e, por isso, quiseram firmar essa afeição doando verdadeiros casarões para que se tornassem casa de todos, referindo como exemplo a Casa Museu Fernando de Castro, rico comerciante e “senhor nas letras”, que deixou à cidade um imóvel rico em talha dourada, com uma bela colecção de pintura do séc. XVII ao Séc. XX e livros, entre outras riquezas onde se misturam o barroco, o moderno e o popular.
     Esta freguesia, com 6,67 km², é a segunda em termos de área no concelho do Porto e é, sem sombra de dúvida, a mais populosa. Tem 7.789 edifícios registados e é, actualmente, uma freguesia com um fortíssimo carácter urbano.



PARA CONSULTA ESTÁ DISPONÍVEL O LIVRO:

S. Veríssimo de Paranhos de Horácio Marçal






"No sítio da Mãe-de-Água...", agora Jardim de Arca d'Água, 

um Duelo entre Ramalho e Antero.

Foto: Fado Ilustrado


«(...) Em 1865, depois de uma viagem a São Miguel, Antero [de Quental] regressa a Coimbra. Em Setembro desse ano, [António Feliciano de] Castilho escreve ao editor António Maria Pereira uma carta, que será publicada como posfácio do Poema da Mocidade, de Pinheiro Chagas. Nela, o velho poeta discute poemas de Antero de Quental, Teófilo Braga e Vieira de Castro, ironizando particularmente sobre as Odes Modernas e sobre dois poemas de Epopeia da Humanidade, de Teófilo Braga. Antero resolve descer à liça e contestar ao seu velho mestre o direito de se arvorar em árbitro das letras nacionais - faz publicar uma carta-aberta a Castilho, Bom-senso e Bom-gosto, onde, exaltadamente, se insurge contra o desdém de Castilho relativamente à nova geração de poetas. E desencadeia-se a que é talvez a mais famosa polémica literária portuguesa, conhecida por Questão Coimbrã ou Questão do Bom Senso e Bom Gosto (...)
No início de 1866, Ramalho Ortigão sai em defesa de Castilho com o folheto A Literatura de Hoje. Acusa Antero de cobardia, pois este invocara como argumentos a velhice e a cegueira do poeta:  [Escreve Antero] O caso era cómico e não trágico. Ramalho Ortigão escreveu insolências bastante indignas a meu respeito num folheto a propósito da sempiterna questão Castilho. Eu vim ao Porto para lhe dar porrada. Encontrei, porém, o Camilo[Castelo Branco] o qual me disse que adivinhava o motivo da viagem e que antes das vias de facto, ele iria falar com o homem para ele dar satisfação. Aceitei. A explicação, porém, do dito homem pareceu-me insuficiente e dispunha-me a correr as eventualidades da bofetada quando me veio dizer o Camilo que o homem se louvava em C.J.Vieira e Antero Albano com plenos poderes de decidir a coisa e que fizesse eu o mesmo em dois amigos meus; na certeza de que uns e outros seriam considerados padrinhos de um duelo (!) no caso de se não entenderem a bem... Que can-can!
No duelo, em 4 de Fevereiro, logo no primeiro assalto, Antero fere Ramalho num braço. A luta termina, as honras estão lavadas. Os dois escritores reconciliam-se. Diz Camilo: Em 1866 na belicosa cidade do Porto, defrontaram-se de espada nua dois escritores portugueses de muitas excelências literárias e grande pundonor. Correu algum sangue. Deu-se por entretida a curiosidade pública e satisfeita a honra convencional dos combatentes. Alguns dias volvidos ia eu de passeio na estrada de Braga e levava comigo a honrosa companhia de um cavalheiro que lustra entre os mais grados das províncias do Norte. No sítio da Mãe-de-Água apontei a direcção de um plano encoberto pelos pinhais e disse ao meu companheiro: Foi ali que há dias a «Crítica Portuguesa» esgrimiu com o «Ideal Alemão»! (...)»

Carlos Loures, in Antero de QuentalVidas Lusófonas


9 de Abril de 1918

AV. DOS COMBATENTES DA GRANDE GUERRA | PRAÇA 9 DE ABRIL (Jardim de Arca d'Água)

Uma pequena Avenida, entre Paranhos e Bonfim, que pretende lembrar a participação dos Portugueses na I Guerra Mundial " A Grande Guerra" entre 1914 e 1918, e o magnífico Jardim de Arca d'Água, com o nome de Praça 9 de Abril.
Portugal entra em guerra a partir do dia 9 de Março de 1916. Desde o principio do conflito tinha ficado neutra. Em três meses é constituído um exército operacional. Por decreto do 22 de Janeiro de 1917 dois corpos são criados : o Corpo de Artilharia Pesada Independente (CAPI), que serve o exército francês, e o Corpo Expedicionário Português (CEP) que vai este servir o exército britânico.
A Batalha de La Lys para os portugueses é uma triste memória. Na madrugada desta data catorze divisões alemães atacaram numa frente de dezasseis quilómetros após um bombardeamento ininterrupto de vinte e quatro horas. Contra a Divisão portuguesa os alemães lançaram quatro divisões e fizeram 6000 prisioneiros.
A confusão foi total quando os alemães descarregaram 2000 toneladas de gás mostarda incapacitante e gás letal de fosgénio (gás mostarda) sobre a linha das forças inglesas nas quais estavam incorporadas as tropas portuguesas. A utilização de armas químicas foi uma das inovações desta guerra e uma das armas mais temidas pelos Soldados: matou 85000 Soldados e deixou incapacitados mais de 1000000, sendo a cegueira uma das sequelas mais comum.

As forças portuguesas assumiram a disposição de um trapézio, cuja face voltada para o inimigo se estendia por 11 km, e dispuseram-se em três linhas de defesa. Este foi um dos mais sangrentos confrontos em que esteve envolvido o Corpo Expedicionário Português, que aqui teve as seguintes baixas: 1341 mortos, 4626 feridos, 1932 desaparecidos e 7440 prisioneiros.



Dados históricos da freguesia por datas


A freguesia de São Veríssimo de Paranhos era vigararia da apresentação do Cabido da Sé do Porto, no termo desta cidade; passou, depois, a reitoria. Arcediagado da Maia (século XII). Comarca eclesiástica do Porto (1856; 1907). Vigararia do Porto (1916); segunda vigararia do Porto (1970).


1587 – Realiza-se o primeiro baptismo com assento a 29 de Novembro, com o nome de André

1588 – A 25 de Junho realiza-se o primeiro assento de casamento entre Thomas Annes e Catarina Annes

1588 – A 20 de Novembro realiza-se o primeiro assento de óbito com o funeral de João da aldeia de Lamas
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1689 – A localidade de Paramio passa a chamar-se, oficialmente, e pela primeira, vez Paranhos

1835 – É criada uma Junta da Paróquia, que a partir de 1910 se chamou Junta de Freguesia

1837 – Por carta de Lei de 27 de Set. 1837 Art 1º  esta freguesia foi "retirada do concelho da Maia e anexada ao do Porto por lhe estar mais próxima para todos os misteres da vida civil e religiosa.A freguesia de Paranhos é integrada na cidade do Porto".

1873 – É estabelecido o primeiro serviço público de transportes da Carris para Paranhos, feito por tracção animal com os “carros americanos” puxados por uma ou duas parelhas de mulas.

1883 - O benemérito Conde de Ferreira (Joaquim Ferreira dos Santos) deixa no seu testamento a edificação de um hospital, no antigo Largo das Regateiras, para “alienados” na freguesia

1891 – Chega pela primeira vez a iluminação pública à freguesia, a gás

1895 - Os carros de tracção animal começam a ser substituídos por veículos de tracção eléctrica

1900 – Há 13 848 residentes na freguesia

1905 - Ano em que se registou o maior número de óbitos: 420

1922 – Chega a iluminação eléctrica à freguesia

1926 – Ano em que se registou o maior número de baptismos: 678

1947 – Ano com o maior número de casamentos: 194 uniões

1948 – Os Serviços de Transportes Colectivos do Porto realizam o seu primeiro serviço na freguesia

2001 – População residente: 48 686 habitantes, dos 22 010 são homens e 26 676 são mulheres.






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